Uma amiga me enviou esse texto, mas não
destacou a autoria do mesmo. Achei maravilhoso e passo para vocês:
“
Envelhecer deveria ser
maciamente. Nunca aos solavancos. Nunca aos trancos e barrancos. Nunca como
alguém caindo num abismo e se agarrando nos galhos e pedras, olhando enquanto
despenca. Jamais também, como quem está se afogando, se asfixiando ou morrendo
numa câmara de gás.Envelhecer deveria ser como plainar.
Como quem não sofre mais (tanto), com
os inevitáveis atritos. Os vinhos
envelhecem melhor ainda. Ficam ali nos limites de sua garrafa, na espessura de
seu sabor, na adega do prazer. E vão envelhecendo e ganhando vida, envelhecendo
e sendo amados, e, porque velhos, desejados. Os vinhos envelhecem densamente. E
dão prazer.
O problema da velhice também se dá com certos instrumentos. Não me
refiro aos que enferrujam pelos cantos, mas a um envelhecimento atuante como o
da faca.
Nela o corte diário dos dias a vai
consumindo. E no entanto, ela continua afiadíssima, encaixando-se nas mãos da
cozinheira como nenhuma outra faca nova.Vai ver, a natureza deveria ter feito
os homens envelhecerem diferente. Como as facas, digamos, por desgaste, sim,
mas nunca desgastante. Seria uma suave solução: a gente devia ir se gastando,
se gastando, se gastando até se evaporar. E aí iam perguntar: cadê fulano? E
alguém diria: gastou-se foi vivendo, vivendo, e acabou. Acabou, é claro, sem
nenhum gemido ou resmungo.
Ainda
agora tirei os olhos do papel e olhei a natureza em torno. Nunca vi o sol se
queixar no entardecer. Nem a lua chorar quando amanhece.”
F
ique na paz!
Dilene Germano