Meus queridos pés
Pra começar vou ser sincera: bonitos vocês não são, além de
magrinhos e pequenos dão um trabalhão para encontrar sapato para vocês..
São como irmãos gêmeos: nasceram no
mesmo dia e hora. Calçam as mesmas meias, mesmos sapatos.E olhando para vocês,
parece que cada um tem identidade
própria. Logo vocês, que dão nome a tanta coisa. Pé de vento. Pé de
moleque. Pé de chinelo. Pé direito. Pé de galinha. Pé de pato. Pé de meia. Toda
fruta tem seu pé. Toda serra também. Tem o pé na estrada. E tem o pé na cova.
Preciso pedir perdão a vocês pelos tantos anos
de sofrimento que submeti a vocês; anos
e anos de sapatos fechados e altos, pela monotonia das botinhas, espécie de
cativeiro para vocês. Por vocês não saberem, por muitos anos o que era uma
pedicura. Pela falta de carinho e atenção. Pelos sapatos altíssimos de bicos
finos, anos a fio. Viviam cativos de minha vaidade. Com o tempo e a maturidade
resolvi que era hora de pedir perdão aos
dois.
Hoje, metidos nas rasteirinhas
abertíssimas ou mesmo nos sapatos e nas botas de bico arredondado e quase sem
salto que lhes dou de presente, vocês parecem muito mais felizes. Metade dos
meus cremes são para vocês. Vocês passeiam descalços, até mais do que deveriam.
De 15 em 15 dias dou um trato em vocês na pedicura e pinto suas unhas a la
francesinha . E vocês vibram.
Nada como nossos olhos (aliás, com
esses eu também preciso ter uma conversa) para nos fazer enxergar a beleza de
outra forma, dar novo sentido às coisas.
É bom dizer essas coisas a vocês. E
notar o quão nobres, esquecendo o
passado, compreendendo a que ponto chegam as esquisitices femininas.
Aprendi a gostar de vocês. Sâo pequenos,
magrinhos, não sei com que pés vocês se parecem.
Com os da cinderela talvez? Na nã ni na não....
Nem os pés da Cinderela, com seus
sapatinhos de cristal, seriam tão charmosos.
Um beijo em cada um.
Fique na Paz!
Dilene Germano