Por
falta de opção e até mesmo de grana , nunca fiz aquela “viagem dos sonhos”:
conhecer outros países, outras culturas, outras realidades.
Na
verdade, as viagens que fiz para um centro maior aqui mesmo no meu país, na
maioria das vezes se tornaram “viagens
do pesadelo”. Explico: eu passava tanto mal, mas tanto mal, com enjôos, vômitos
, etc que qualquer prazer ou alegria escorria pelas janelas dos ônibus ou
alterava ( para pior) minha fisionomia escancarada no espelho retrovisor do
carro.
Como a viagem que fiz pela primeira vez ao Rio de Janeiro.
Cidade de sol radiante e céu azul, diga-se de passagem – é tudo de bom!Mas
isso, não preciso dizer, pois Tom já se antecipou e cantou de maneira muito
mais adequada em sua obra.
Puxa,
conhecer a cidade maravilhosa, sair do meu mundinho de interior e ir para
Copacabana era tudo o que eu mais almejava na vida! Se me convidassem para ir à
Marte ou à Copacabana, dava na mesma coisa, para mim a impossibilidade era
igual. Mas aos trancos e barrancos consegui a tão sonhada viagem à praia mais
linda, mais famosa e mais falada do mundo.
Na véspera de viajar, comecei os
preparativos e me esqueci do meu “ pequeno probleminha”... nada que um, dois ou
três comprimidos de Dramim não resolvessem.
Fui ao
cabeleireiro, paguei uma nota e mandei fazer o penteado da moda no estilo
Brigitte Bardoux: um coque alto, cheio de mechas, o que foi preciso dar uma
desfiadinha básica e um leve enchimento
com um pedaço de bombril, é claro. Não faria feio ao desembarcar na rodoviária
do Rio, afinal eu queria me parecer com uma carioca da gema.
Bem, o
cabelo, ficou do jeito que eu queria . Sairíamos às 6 horas da manhã do outro
dia. Dormi sentada, para não estragar o penteado...!
No dia seguinte, lá fui eu, minha amiga e a
mãe dela. Depois de uma hora , num ônibus que primeiro enfrentava uma estrada
de terra ( o trecho até o Rio não era todo asfaltado) , balança pra cá, balança
pra lá...e balançando, balançando meu estômago não resistiu.E olhe que lutei
bravamente em honra do meu lindo coque.
Numa batalha que já está perdida, o mais
inteligente é depor as armas e se entregar, não é mesmo? E foi o que eu fiz:
abri a janela , botei a cabeça para fora e ... me reeeeendo! Me despi de tudo
que me incomodava, jóquei para fora todos os meus segredos de liquidificador.
Por
favor, não fiquei nua, OK? Mas aí começa o verdadeiro pesadelo. Eu precisava de
vento, bastante vento, um vento amigo para aliviar a minha sensação de
desconforto ( só quem passa, sabe o que é), mas ao mesmo tempo fatal, virou meu pior inimigo: acabou com o
meu penteado!!!!
Nesta
hora apelei para a música de Tito Madi
“Balanço Zona Sul” : “ balance os cabelos seus/ balance, cai mas não
cai/ e se cair vai caindo , caindo nos braços meus.... Qual o quê!
O que aconteceu na minha cabeça foi pior que
a revolução cubana (estava no auge), revirou tudo de pernas à cabeça !Romperam-se
os laços, os grampos e as mechas ficaram livres, leves e soltas.
O desfiado apareceu, meu sonho acabou, mas o
bombril permaneceu firme no alto da cabeça, não se desprendeu nem mesmo ante a
fúria guerrilheira do vento forte. Um
verdadeiro símbolo da garra de Fidel Castro! Nada pude fazer a não ser dar vivas pelo menos ao Cuba Livre!
Mas sobrevivi, pela metade é verdade, mas
sobrevivi e cheguei ao Rio. Fiquei dois dias de cama, e quanto ao cabelo, diz
uma frase que “o que não tem remédio, remediado está”.
Já refeita, pelo menos vou curtir a praia. Mas
antes, vem a história do biquíni. Todas
as cariocas usavam, e eu querendo ser meio Leila Diniz, também. Mas mamãe conservadora
: nem pensar!
Garota de interior era outra coisa, onde já se
viu!E como a gente não tinha dinheiro para comprar um pronto, o que também era
difícil de encontrar , minha mãe ( que era costureira) fez um “ engana mamãe”:
maiô na frente e uma espécie de biquíni atrás. Antes, ela havia me dito: não
ouse usar biquíni porque vou conferir a marca no seu corpo. Táááá, mamãe!!!
Você deve estar pensando que eu desobedeci, não é mesmo? De jeito nenhum, aviso
de mãe era sagrado!
E lá fui eu para a praia.... “ Copacabana...princesinha do mar...pelas
manhãs tu levas a vida a cantar...”!
Parecia
que estava em outro mundo. Tudo diferente! Pessoas bonitas, educadas, finas,
sentadas nas cadeiras, conversando mais do que tomando banho de mar ou de sol!
Gente, eu não entendia como elas não
aproveitam o mar maravilhoso! Então
aproveito eu!
E
ficava ora no mar , ora na areia, me lambuzando de “ Rayito de Sol” , o
mais famoso bronzeador importado na época. Afinal, quando
eu voltasse, queria as famosas marcas de sol para provar que havia ido à...
praia de Copacabana. Toda hora, eu puxava a alça do maiô para conferir a marca
e, comparar com a da minha amiga. Ah! estava muito fraquinha ainda, ninguém
nem sequer vai perceber! E tome mais sol e mar!E eu fritando!
Tudo bem. Quando chegou à noite, meu segundo
pesadelo! Desta vez, parecia que eu estava numa trincheira da Primeira Guerra
Mundial.Fogo, bombas explodindo para todo lado... e uma havia me atingido:
estava toda queimada, não podia mexer, dor, ardência e desespero... Como em
toda guerra, as marcas da tragédia sempre ficam para contar a história, as minhas estavam nas costas, na barriga, nas
pernas: as marcas do meu maiô...!
Depois de relembrar esses dois fatos “históricos”
de minha vida, das devidas lições que me passaram e diga-se de passagem...
aprendi, o gostinho que estou sentindo é bem gostosinho e quero compartilhar
esse sabor com você ! Posso?
Então, fique na paz!
Dilene
Germano
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