quarta-feira, 4 de setembro de 2013

VIZINHOS OU PARENTES?


Na cidade de Porciúncula, o nome de minha rua era Leopoldina, numa homenagem  à Imperatriz , primeira esposa de D. Pedro I. Em Itaperuna, minha rua ganhou o apelido de “ Julinha” , com as devidas  desculpas ao grande Júlio César, ditador romano, que deu o nome à rua.Ave César!!!!

É até engraçado dar nome às ruas de pessoas envoltas em majestade e poder, desconhecidos até da maioria dos moradores, na época, pessoas humildes, pobres, trabalhadoras, onde o luxo era a solidariedade entre eles.
Nas duas cidades, a vizinhança era uma relação de parentesco. E nem precisava ser vizinho de quintal.Todo o bairro era uma grande família.

Tudo se emprestava: livros, remédios, ovos, pó de café, xícaras de açúcar... Quando havia um casamento reunia na casa dos pais da noiva, as melhores cadeiras da rua, os melhores copos, pratos, talheres do bairro, o que depois da festa eram devolvidos religiosamente aos seus donos.
Fome, doença, desemprego, alegria, dor, briga, tudo era compartilhado. 


 Nessa época, como não existia televisão, tinha-se o costume de volta e meia, fazer uma visita aos vizinhos, conhecidos ou parentes. E olhe que quem recebia, não precisava ser avisado, as visitas eram de surpresa mesmo.  Coisa de bom mineiro!E ninguém ficava constrangido, porque sempre tinha alguma coisa a oferecer ao visitante.

 E numa dessas visitas, na casa de Dona Anterolina, famosa por seus doces , lá fui com minha mãe e irmã. No meu pensamento, povoavam goiabadas, pudins, doces maravilhosos!

 A surpresa sempre vinha mais tarde, e durante a conversa, eu me mantinha educadamente , como uma boa menina deveria ser. Mas o meu pensamento ia de um doce ao outro: o que será que ela vai oferecer? Depois de esperar, o que para mim foi uma eternidade, minha mãe começou a se despedir. Mas como assim? E o doce?

Foi quando dona Anterolina, nos chamou para a cozinha e lá na mesa estavam meus tesouros: goiabada com queijo!
Como era de praxe, a dona da casa nos servia. E eu, bastante ansiosa, soltei a seguinte pérola: a senhora poderia me dar um pedaço maior do que o da minha irmã?  Resultado: minha mãe coberta de vergonha e eu na certeza de levar umas boas chineladas! Nessa época estavam dentro da lei e não traumatizavam.
 Tive meus medos, minhas alegrias, meus sonhos, meus segredos...E estranho..tudo me trás saudades!


Olhe que já ganhei muita lata de marmelada, goiabada, refrigerantes, etc.
Quando o circo do Sr. Bartolo chegava, era um acontecimento! Nessa época, não havia lan-hauses, vídeo-games, shopping. Televisão, só para ricos. O circo reinava soberano no campo do divertimento, sem concorrentes.

Como tinha uma vizinha (ah...bendita vizinha) que já trabalhara em circo, aproveitava para ir com ela e entrar de graça. Ficava encantada com as atrações: globo da morte, contorcionismo, malabarismo, trapézio, mágicas e principalmente o teatro.

Encenavam  peças maravilhosas, mas tinha uma, baseada numa música que eu cantava e chorava até dormindo: “Coração Materno”. Também pudera, eu não perdia um espetáculo!

 Minha sensibilidade já estava sendo despertada e lições de superação e capacidade humana estavam sendo aprendidas.
Ah! Instantes de mim...


Fique na Paz!        
                     Dilene Germano


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