Na cidade de Porciúncula, o nome de minha rua era Leopoldina,
numa homenagem à Imperatriz , primeira
esposa de D. Pedro I. Em Itaperuna, minha rua ganhou o apelido de “ Julinha” ,
com as devidas desculpas ao grande Júlio
César, ditador romano, que deu o nome à rua.Ave César!!!!
É até engraçado dar nome às ruas de pessoas envoltas em majestade
e poder, desconhecidos até da maioria dos moradores, na época, pessoas
humildes, pobres, trabalhadoras, onde o luxo era a solidariedade entre eles.
Nas duas cidades, a vizinhança era uma relação de parentesco. E
nem precisava ser vizinho de quintal.Todo o bairro era uma grande família.
Tudo se emprestava: livros, remédios, ovos, pó de café, xícaras
de açúcar... Quando havia um casamento reunia na casa dos pais da noiva, as
melhores cadeiras da rua, os melhores copos, pratos, talheres do bairro, o que
depois da festa eram devolvidos religiosamente aos seus donos.
Fome, doença, desemprego, alegria, dor, briga, tudo era
compartilhado.
Nessa época, como não
existia televisão, tinha-se o costume de volta e meia, fazer uma visita aos
vizinhos, conhecidos ou parentes. E olhe que quem recebia, não precisava ser
avisado, as visitas eram de surpresa mesmo.
Coisa de bom mineiro!E ninguém ficava constrangido, porque sempre tinha
alguma coisa a oferecer ao visitante.
E numa dessas visitas, na casa de Dona Anterolina, famosa por seus doces , lá fui com minha mãe e irmã. No meu pensamento, povoavam goiabadas, pudins, doces maravilhosos!
A surpresa sempre vinha
mais tarde, e durante a conversa, eu me mantinha educadamente , como uma boa
menina deveria ser. Mas o meu pensamento ia de um doce ao outro: o que será que
ela vai oferecer? Depois de esperar, o que para mim foi uma eternidade, minha
mãe começou a se despedir. Mas como assim? E o doce?
Foi quando dona Anterolina, nos chamou para a cozinha e lá na
mesa estavam meus tesouros: goiabada com queijo!
Como era de praxe, a dona da casa nos servia. E eu, bastante
ansiosa, soltei a seguinte pérola: a senhora poderia me dar um pedaço maior do
que o da minha irmã? Resultado: minha
mãe coberta de vergonha e eu na certeza de levar umas boas chineladas! Nessa
época estavam dentro da lei e não traumatizavam.
Tive meus medos, minhas
alegrias, meus sonhos, meus segredos...E estranho..tudo me trás saudades!
Olhe que já ganhei muita lata de marmelada, goiabada,
refrigerantes, etc.
Quando o circo do Sr. Bartolo chegava, era um acontecimento!
Nessa época, não havia lan-hauses, vídeo-games, shopping. Televisão, só para
ricos. O circo reinava soberano no campo do divertimento, sem concorrentes.
Como tinha uma vizinha (ah...bendita vizinha) que já trabalhara
em circo, aproveitava para ir com ela e entrar de graça. Ficava encantada com
as atrações: globo da morte, contorcionismo, malabarismo, trapézio, mágicas e
principalmente o teatro.
Encenavam peças
maravilhosas, mas tinha uma, baseada numa música que eu cantava e chorava até
dormindo: “Coração Materno”. Também pudera, eu não perdia um espetáculo!
Minha sensibilidade já
estava sendo despertada e lições de superação e capacidade humana estavam sendo
aprendidas.
Ah! Instantes de mim...
Fique na
Paz!
Dilene Germano
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