Milho na brasa... O dia estava
ensolarado e apesar do calor, aproveitamos para ir até lá na roça colher
algumas espigas de milho para fazer papa e assar na brasa .
As roças de milho por aqui estão boas,
mas com esse sol rajando e a chuva que não vem tomara não sejam muito
prejudicadas. Como é belo o milho !
Rubem Braga já falara de Seu “Pé de
Milho” ,era um só pé de milho, no jardim...
um só, isolado, mas de bela figura: “Um
belo gesto da terra”!!!Os nossos eram muitos, uma roça inteira de milho
Um milharal!Um carinho da terra!!!
Cora Coralina reserva a esse vegetal obscuro um espaço mais
significativo: o milho, personificado, assume a voz lírica e agradece, em tom
de oração, a sua humildade necessária:
“O Justo não me consagrou Pão da Vida,
nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apénas o alimento forte e
substancial dos que trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura e de ascendência
pobre. Alimento de rústicos e animais do jugo.
Fui o angú pesado e constante do
escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do
pequeno sitiante. Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos
que começam a vida em terra estranha.
Sou apénas a fartura generosa e
despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o
gado
Sou o canto festivo dos galos na glória
do dia que amanhece.
Sou o carcarejo alegre das poedeiras à
volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal, agradecida a
Vós, Senhor, que me fizeste necessária e humilde
SOU O MILHO” (Cora Coralina)
O milho se divide, mas a cor e o gosto cada um decide. Tirei algumas fotos pra vocês.
Do milho verde não tem o que não fica
bom.
Delícia de milho assado na brasa do
fogão à lenha. O espaço gourmet era em volta do
fogão de lenha da D. Ângela.
E o mingau de milho verde? Eu conheço
como “papa de milho verde”, coisas de mineiro, né? Tem gente que gosta quente,
outros gelada. Eu prefiro de qualquer jeito! Adoro!! Eu acho que nos banquetes
dos deuses do Olimpo só podiam servir papa de milho!.
Não preciso dar a receita porque todo
mundo por aqui já sabe a maneira de fazê-la. É todo um ritual. Depois de
pronta e colocada nos devidos
recipientes é a hora de “rapar” (raspar) a panela. Eita coisa boa! Me lembro
que quando criança, não podia fazer isso, pois diziam que papa quente dá dor de
barriga....
Quanta lembrança boa...infância, casa
de mãe, casa de avó, roça, boa prosa...e por aí vai.
Fique na paz!
Dilene Germano