É...
quanta história para contar! A começar, parafraseando Lamartine Babo: os meus
cabelos não negam... Apesar dos “
milagres” da escova, chapinha, alisamentos, tinturas, progressivas , etc,
quando começam a crescer, não negam sua origem...
Ah!! cabelos!
Volta e meia, ouço alguém ( inclusive eu) reclamando: é muito volumoso, esse “
frizz” deixa meu cabelo tal qual o Bozo (lembra?), o meu é tão seco que nem
nordestino agüenta, o meu é tão oleoso que chega a atacar meu colesterol, o meu
é cacheado , o meu é liso demais, o meu é isso, o meu é aquilo. Mas tem um
porém..., cabelo é igual a filho, você pode falar de seu defeito, mas... os
outros nem pensar!
E olhe que muita gente reclama de barriga
cheia, pois têm cabelos maravilhosos e fáceis de serem tratados. Mas quer saber
de uma coisa? Como o gênio da lâmpada ou as fadas madrinhas não puderam me dar
um cabelo como eu gostaria, há anos traí o lado de minha descendência afro,
após tornar-me adepta das escovas e da chapinha (a fada madrinha das mulheres
infelizes de cabelos crespos). Não há chuva
ou insistência da natureza que me faz desistir de ter cabelos lisos! E
nem me venham com o politicamente correto...
Acho até que deve ser chato, alguém já ter,
nascido com aquele cabelo perfeito, que basta lavar, dar uma sacudida e pronto:
fica lindo sem esforço! Para ser sincera, eu gosto desse “ esforço”, para
acabar com meus caracóis. Adoro os rituais capilares no salão, onde o “ mago”
ou o “ feiticeiro” ou a “feiticeira” opera os milagres das escovas inteligente,
indiana, londrina, de chocolate, de morango, definitiva, japonesa e mais o que
inventarem, com suas “mágicas” varinhas de condão: escova e secador.
Mas
qual o papel social do cabelo? Muito se investe nos cabelos, mas pouco se fala
sobre eles, a não ser nos manuais e revistas de cabeleireiros.
Ao
longo da história das civilizações, a cabeleira representou um elemento
fundamental da personalidade humana. Sustentáculo da beleza, do fascínio e da
sedução para as mulheres e até mesmo do poder e da força para o homem.
Todos
os povos da Terra, em todas as épocas elaboraram penteados variados com a
tarefa de exprimir cada etapa de suas vidas, bem como comunicar aos demais os
seus respectivos papéis, seus status e suas dignidades culturais.Quer ver?
Os romanos, por exemplo, pelavam a cabeça dos
indivíduos hierarquicamente inferiores como os escravos, os prisioneiros, os
traidores. Os franceses após a Segunda Guerra Mundial faziam a mesma prática
com as colaboradoras e companheiras dos alemães. Os antigos egípcios
tornaram-se famosos pelo uso da peruca como forma de distinção social. Sansão,
do Antigo Testamento tinha sua invencibilidade ligada à sua vasta cabeleira.
Foi confiar seu segredo à Dalila e deu no que deu... mas derrotou os filisteus
quando recuperou seus fios preciosos.
Na Grécia
Antiga, o cabelo era uma expressão de atitude. O cabelo cacheado não só estava
na moda, como também representava atitude para com a vida. Os cachos eram uma
metáfora para a inquietação, desejo de mudança, liberdade, alegria de viver (
pontos para as cacheadas).Como tudo se recria, com certeza os cabelos cacheados
têm a sua vez, e podem até com grande “atitude”, acabar com a “ ditadura das
chapinhas, progressivas e afins.
E então, querem mais?
O Rei-sol, Luís XIV, era notado por suas
extravagâncias e longas perucas, as quais usava como símbolo de luxo e
esplendor. Portanto, na França absolutista, o cabelo era sinal de nobreza, e
olhe que muitas marquesas, duquesas e condessas não tinham um cabelo
muito...digamos assim...ajeitável! Daí, que...
Gente
bonita, que cabelo era aquele do final do século XVI: um perucão alto, cacheado
e empoado com pó-de-arroz branco? As que não usavam peruca, faziam seus
penteados virarem obras de engenharia: altos com armação de arames, enfeitados
de rendas e fitas, virando verdadeiros ninhos... de piolhos.
Na
Idade Média, cabelo feio era sinal de bruxaria e muitas pessoas foram queimadas
por isso. Naquela época, beleza já era
fundamental...cabelo então...era caso de vida ou morte!
Aqui
na América, o cabelão foi utilizado como esconderijo de ouro, prata, diamantes
, para enganar o fisco, ainda que a globalização estivesse engatinhando.
Mas
que não fiquem tristes os carecas, a história os redime. Se por um lado, os
cabelos estiveram associados á idéia de força e beleza, a calvície ficou ligada
ao conceito de sabedoria. Sócrates orgulhava-se de sua falta de cabelos,
dizendo: “ Mato não cresce em ruas ativas”. Grande Sócrates! Mesmo sendo idéia
sua, tenho certeza que isso não
levantava a auto-estima das mulheres
pouco cabeludas!
Essa
frase já foi muito usada, mas de vez em quando ainda é citada: “ é dos carecas
que elas gostam mais...” . Será?... O que importa é o charme, a atitude e a
inteligência, com certeza é o que deixa qualquer homem lindo, seja ele careca
ou cabeludo.
De
qualquer forma, na civilização atual os cabelos perderam muito da função
remota, mas ainda são marcas de beleza e sedução.
E, bendita
seja a química: encaracolado, afro, ondulado, cacheado, liso (a preferência
nacional), hoje ninguém mais sabe o que é natural e o que foi “fabricado” no
salão.
Só sei
que cabelos exigem muitos cuidados e muitos gastos para ficarem saudáveis e
bonitos. Mas como isso não é um guia de beleza, então, não importa seu gosto,
padrão ou preferência, procure seu cabeleireiro e seja feliz!
Fique
na paz!
Dilene Germano
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