domingo, 11 de março de 2012

68 ANOS: CORPO E EXPERIÊNCIA DE 68


Estou no patamar de meus 68 (sessenta e oito) anos, saudáveis e bem-vividos vale reconhecer. Já me assustei com isso, mas hoje, me acostumei com a idéia!
 Não me considero uma mulher “ sessentona”  com a cabeça e o corpo de 30. Voltar aos 30 anos? Nem por um decreto. Não faz sentido. E as limitações próprias dos 60 anos? Não teria a sabedoria para conviver com elas.
E se  não pude me furtar, por exemplo, da osteoporose física, procuro não desenvolve-la na alma. Na medida do possível, tento pensar positivo, ler um bom livro, ouvir uma boa música, não assistir noticiários de determinados telejornais, e principalmente aprender a renovar minha mente.
 Tomei para mim, o exemplo das águias. Aliás, essas aves são surpreendentes! Veja só quanto podemos aprender com elas! A águia  vive 70 anos, e renovar para ela significa renascer. Aos 40 anos, a águia troca de bico, as unhas e as penas, transformando sua idade em força pura, alçando vôos vitoriosos e imponentes por mais “ uma vida inteira”.
 Aprendi também que a tal da compreensão  é uma coisa que só muitos aniversários nas costas nos dá.
 Gente, como é bom compreender! Isso tem um valor inestimável: são as perdas e também os ganhos, os problemas e também as soluções, as tristezas e também as alegrias. São situações de 8 ou 80, emoções confusas que me forçam a equilibrar a balança.
O sentido da compreensão foi acordado em mim, através das pessoas que povoam meu caminho e que me fazem mais “ mole” e ao mesmo tempo mais forte.
 O difícil é lidar com pessoas incompreensíveis. Ah! Se elas soubessem que o reverso da  moeda é muito mais fácil e compensador!
 A questão da maturidade se tornou mais clara para mim. A maturidade não tem nada a ver com as velinhas sopradas no bolo, isto é, com o tempo, e sim, com as mudanças de atitudes. Acho que ela se refere às bagagens e às experiências que já passei e o que aproveitei para tirar algo delas. Por exemplo: entre outras coisas, aprendi a não repetir os erros; a conviver em paz com o que não posso mudar, e se não posso mudar os fatos, tenho que ser modificada por eles; a me sentir sedutora sem precisar provar isso para ninguém; a gostar de ser chamada de bonita e inteligente, mas não necessitar desses elogios para satisfazer nenhum complexo de narciso.
Outro lado positivo de ter décadas de experiências, é que posso “ enlourecer” à vontade, sem ter que ouvir  piadas preconceituosas da “ loura burra”.Alguém já disse que mulher não envelhece, enlourece.
 A mídia que me perdoe pelo culto à juventude, mas assumo plenamente a minha idade, sem complexos, sem saudosismo, mas também sem entregar os pontos. Já li alguma coisa sobre o ser humano ter duas idades: vivo ou morto. E por enquanto estou vivíssima.
Mas tenho minhas limitações: osteoporose, menopausa, não devo comer muito, evitar bebidas alcoólicas, os hormônios desapareceram e a consciência de que meu corpo é perecível.
Sobre minhas rugas gravitacionais, nem me passa pela cabeça desafiar a lei de Isaac Newton. Não há como ignorá-la, é implacável, puxa tudo para baixo, sendo  minhas partes mais moles as primeiras a sofrerem a ação demolidora. Mesmo porque, nada revoga esse fenômeno da física!
 Leio o livro de minha vida com bom humor, sem sofrer na busca pela juventude, muitas vezes, rindo de mim e para mim. Aos 50 anos resolvi “ tombar” meu corpo como patrimônio histórico de minha vida, e como tal, precisa ser preservado.
Graças aos avanços da medicina e até mesmo de uma mudança de atitude e visão do mundo, faço mamografia todos os anos, papanicolau, densitometria, vou ao médico quando sinto que há necessidade( mas sem paranóia), uso um bom creme para o rosto, tonalizo meus cabelos, faço exercícios,etc.
Apesar da preservação, o tempo é inexorável, portanto, acho que uma restauração aqui, outra restauração ali é necessária.
Sendo assim, encararia pequenas reformas no corpo, mas jamais buscaria desenfreadamente por uma juventude que nem malhação, dietas e botox conseguiriam deter. Sem exageros, mas com bom senso não considero “ pecado” fazer uma plástica para melhorar a auto-estima.O que não aceito é a ditadura da moda, isto é,  “ da produção em série” de rostos sem expressão  como o do Coringa, inimigo do Batman, com seu indefectível “bocão” e o rosto “teso”.
  A  verdade é que todos nós vamos envelhecer. Apesar da idéia não ser agradável , isso é um fato e é melhor relaxar e,... acostumar. Como consolo, passo as seguintes citações:   Bibi Ferreira disse: “ a minha velhice é definitiva e a sua juventude é provisória”. Boa reflexão, não é mesmo? E estou com Luis Fernando Veríssimo, quando ele diz, que o prazer é o melhor rejuvenescedor.
Sêneca, grande filósofo romano, dizia que não temos a idade que temos. Ou seja, se você já fez 30 anos significa que se desfez desse tempo, ele já não lhe pertence, é passado. O que você tem são os anos vindouros, por isso, em cada aniversário, é época de reflexão. E é bom comemorá-los.
Se eles pensam assim, quem sou eu para contradizer?Concordo plenamente!
E como disse Cazuza, se “ o tempo não para”, então que ele seja a meu favor!E se não for, pelo menos não deixarei que ele esvazie meus sonhos, que seque meu amor pela vida, que mate  minha esperança, que roube minha alegria de viver.
Acho saudável falar do passado, mas não com o saudosismo rançoso que acha que só o passado é que era bom, mas para tirar lições no presente.
  O que às vezes me preocupa no futuro é o medo de perder a lucidez. Sinto na pele, através de minha mãe, o horror da dependência de uma doença como o alzheimer, por exemplo, que é um longo processo  que vai devastando a pessoa a  “conta gota”.
E quando nos perdemos de nós mesmos, já não encontramos mais nada. Mas, se um dia isso me acontecer, quando eu não tiver mais  certezas , terei que reinventar a minha vida dia a dia, na pessoa que passarei a ser. Só espero que as pessoas entendam esse processo.
 Cuido para não ficar chata, rabugenta, frustrada. Mas quando  eu começar a fraquejar, desanimar, me atrapalhar com coisas aparentemente fáceis ou difíceis, que tenham paciência comigo e entendam que essas mudanças fazem parte de um ciclo de vida, pelo qual grande parte passa. Afinal, quem não chegar ao envelhecimento, é porque morreu jovem. Se  puderem me fazer um mimo, agradeço!
 Quero ao meu lado também, pessoas de astral alto, bem-humoradas, de bem com a vida, guerreiras, etc.
Não tenho preguiça em lidar com o novo. Nesse meu caminho, acompanhei o avanço frenético da tecnologia. Coisas que para mim eram inimagináveis ou de “ficção científica”, acabaram virando banalidades e hoje, sou dependente delas. Porém, não quero ser uma velhinha agarrada ao notebook e descrente das pessoas.
Como será o mundo daqui a 20 anos? Vai saber...
Sou vaidosa assumida,  tive a sorte de manter meu peso e me sinto bem . Para isso, tive que pagar um bom  preço:  exercícios e muitas mudanças de hábitos. Valeu a pena pagar!
 Acho muito bom me arrumar, ser um pouco estilosa, gosto de roupas que me fazem sentir bem ( não importa que sejam de marca, griffe ou popular), um bom livro, jóias, uma boa música, um bom perfume enfim, coisas boas da vida.
Quero estar com tudo em cima nas minhas atitudes, no estar de bem com a vida e no gostar de mim mesma.
Daí, que para mim, “ historicamente falando”: a aparência é simplesmente uma conseqüência e não uma causa.

                                                      
 Fique na Paz!
                      Dilene Germano                                

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