sexta-feira, 1 de março de 2013

RUMO À COPACABANA (Dilene Grmano)



    Por falta de opção e até mesmo de grana , nunca fiz aquela “viagem dos sonhos”: conhecer outros países, outras culturas, outras realidades.
Na verdade, as viagens que fiz para um centro maior aqui mesmo no meu país, na maioria das vezes se tornaram  “viagens do pesadelo”. Explico: eu passava tanto mal, mas tanto mal, com enjôos, vômitos , etc que qualquer prazer ou alegria escorria pelas janelas dos ônibus ou alterava ( para pior) minha fisionomia escancarada no espelho retrovisor do carro.
    Como a viagem que  fiz pela primeira vez ao Rio de Janeiro. Cidade de sol radiante e céu azul, diga-se de passagem – é tudo de bom!Mas isso, não preciso dizer, pois Tom já se antecipou e cantou de maneira muito mais adequada em sua obra.
  Puxa, conhecer a cidade maravilhosa, sair do meu mundinho de interior e ir para Copacabana era tudo o que eu mais almejava na vida! Se me convidassem para ir à Marte ou à Copacabana, dava na mesma coisa, para mim a impossibilidade era igual. Mas aos trancos e barrancos consegui a tão sonhada viagem à praia mais linda, mais famosa e mais falada do mundo.
   Na véspera de viajar, comecei os preparativos e me esqueci do meu “ pequeno probleminha”... nada que um, dois ou três comprimidos de Dramim não resolvessem.
Fui ao cabeleireiro, paguei uma nota e mandei fazer o penteado da moda no estilo Brigitte Bardoux: um coque alto, cheio de mechas, o que foi preciso dar uma desfiadinha básica  e um leve enchimento com um pedaço de bombril, é claro. Não faria feio ao desembarcar na rodoviária do Rio, afinal eu queria me parecer com uma carioca da gema.
Bem, o cabelo, ficou do jeito que eu queria . Sairíamos às 6 horas da manhã do outro dia. Dormi sentada, para não estragar o penteado...!
   No dia seguinte, lá fui eu, minha amiga e a mãe dela. Depois de uma hora , num ônibus que primeiro enfrentava uma estrada de terra ( o trecho até o Rio não era todo asfaltado) , balança pra cá, balança pra lá...e balançando, balançando meu estômago não resistiu.E olhe que lutei bravamente em honra do meu lindo coque.
   Numa batalha que já está perdida, o mais inteligente é  depor as armas e se  entregar, não é mesmo? E foi o que eu fiz: abri a janela , botei a cabeça para fora e ... me reeeeendo! Me despi de tudo que me incomodava, jóquei para fora todos os meus segredos de liquidificador.
Por favor, não fiquei nua, OK? Mas aí começa o verdadeiro pesadelo. Eu precisava de vento, bastante vento, um vento amigo para aliviar a minha sensação de desconforto ( só quem passa, sabe o que é), mas ao mesmo tempo  fatal, virou meu pior inimigo: acabou com o meu penteado!!!!
Nesta hora apelei para a música de Tito Madi  “Balanço Zona Sul” : “ balance os cabelos seus/ balance, cai mas não cai/ e se cair vai caindo , caindo nos braços meus.... Qual o quê!
   O que aconteceu na minha cabeça foi pior que a revolução cubana (estava no auge), revirou tudo de pernas à cabeça !Romperam-se os laços, os grampos e as mechas ficaram livres, leves e soltas.
 O desfiado apareceu, meu sonho acabou, mas o bombril permaneceu firme no alto da cabeça, não se desprendeu nem mesmo ante a fúria guerrilheira do  vento forte. Um verdadeiro símbolo da garra de Fidel Castro! Nada pude fazer a não ser  dar  vivas pelo menos ao  Cuba Livre!
   Mas sobrevivi, pela metade é verdade, mas sobrevivi e cheguei ao Rio. Fiquei dois dias de cama, e quanto ao cabelo, diz uma frase que “o que não tem remédio, remediado está”.
 Já refeita, pelo menos vou curtir a praia. Mas antes, vem a história do biquíni.  Todas as cariocas usavam, e eu querendo ser meio Leila Diniz, também. Mas mamãe conservadora : nem pensar!
 Garota de interior era outra coisa, onde já se viu!E como a gente não tinha dinheiro para comprar um pronto, o que também era difícil de encontrar , minha mãe ( que era costureira) fez um “ engana mamãe”: maiô na frente e uma espécie de biquíni atrás. Antes, ela havia me dito: não ouse usar biquíni porque vou conferir a marca no seu corpo. Táááá, mamãe!!! Você deve estar pensando que eu desobedeci, não é mesmo? De jeito nenhum, aviso de mãe era sagrado!
    E lá fui eu para a praia....  “ Copacabana...princesinha do mar...pelas manhãs tu levas a vida a cantar...”!
Parecia que estava em outro mundo. Tudo diferente! Pessoas bonitas, educadas, finas, sentadas nas cadeiras, conversando mais do que tomando banho de mar ou de sol! Gente, eu não entendia  como elas não aproveitam o mar  maravilhoso! Então aproveito eu!
E ficava ora no mar , ora na areia, me lambuzando de “ Rayito de Sol” , o mais  famoso  bronzeador importado na época. Afinal, quando eu voltasse, queria as famosas marcas de sol para provar que havia ido à... praia de Copacabana. Toda hora, eu puxava a alça do maiô para conferir a marca e, comparar com a da  minha amiga.      Ah! estava muito fraquinha ainda, ninguém nem sequer vai perceber! E tome mais sol e mar!E eu fritando!
   Tudo bem. Quando chegou à noite, meu segundo pesadelo! Desta vez, parecia que eu estava numa trincheira da Primeira Guerra Mundial.Fogo, bombas explodindo para todo lado... e uma havia me atingido: estava toda queimada, não podia mexer, dor, ardência e desespero... Como em toda guerra, as marcas da tragédia sempre ficam para contar a história,  as minhas estavam nas costas, na barriga, nas pernas: as marcas do meu maiô...!
   Depois de relembrar esses dois fatos “históricos” de minha vida, das devidas lições que me passaram e diga-se de passagem... aprendi, o gostinho que estou sentindo é bem gostosinho e quero compartilhar esse sabor com você ! Posso?
    Então, fique na paz!
                                   Dilene Germano

   

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