sexta-feira, 17 de maio de 2013

A PORTEIRA (Dilene Germano)


Gosto dessas coisas que vêm do nada e me fazem viajar no tempo e nas emoções.Para chegar ao sítio do Barreiro, passo por diversas propriedades rurais e consequentemente, por muitas porteiras de madeira trançada. E aí, mais uma vez vou de encontro às minhas memórias, nas coisas mais simples, que me fazem mais feliz!

Isso lá pelos idos e pelas bandas de Minas Gerais.


 Porteiras: tínhamos que abrir e fechá-las.... Era de lei...A gente adorava  e havia até disputa no carro para ver quem ia abrindo as porteiras. Hoje, disputa-se quem não vai...
Eu não era propriamente uma “menina da porteira”. Mas eu gostava de abri-las porque aproveitava para pendurar nelas, naquelas mais fortes, e usufruir dos seus percursos, ao abrir e fechar. Tudo que servisse de gangorra era bom e divertido.
As porteiras eram minhas amigas. Porteiras para mim, não tinha o significado que aprendi mais tarde: separar pessoas e terras. Por intuição, elas e as cercas  serviam para proteger os animais para não sumirem de seus espaços. Além disso, elas enfeitavam os lugares, eram ótimas para subir nelas e brincar, e eventualmente ter como correr e se esconder de alguns animais que por ventura nos estranhassem.E como me salvaram dos gansos da tia Clara e tio Juca!
De vez em quando tinha um menino ou menina da porteira pra ajudar em troca de alguma moeda. Às vezes tinha muitos.
 Ainda gosto de abrir porteiras, porque me lembra a “roça” de minha infância: colocar os pés na terra, sentir o ar puro (pode até não ser tão puro, mas é diferente da cidade), ouvir o galo cantar, porque acordar com seu canto, são outros quinhentos, comer galinha caipira com angu, tomar leite queimado antes de dormir, sentar à beira do fogão a lenha e conversar com a vó Maria e meus tios, contar e ouvir histórias, dar boas risadas com meus primos e primas, aquecendo meu coração.
Tudo bunitim...com jeito de mineirim..Tem coisa “mió de bão”?Ah, num tem não, sô!!!!
Hoje vivemos corridos, estressados, ansiosos, apavorados, com problemas, trabalho, doenças, estudos, violência, trânsito infernal.Pra quebrar essa rotina, sair dela, vou para a “roça”.



E nessas minhas idas, cada vez que o carro desliga perto de uma porteira, desço para escutar o ranger  da madeira em meio ao silêncio e à paz da natureza.Depois o carro segue para seu destino, deixando para trás uma porteira fechada, outras tantas por abrir, muitas para fechar.

Gente bonita, caso sinta  saudade ou queira sentir a beleza das coisas simples...venha...vou deixar a porteira aberta!

Fique na paz!
                       Dilene Germano

Um comentário:

  1. Maravilha. Parabéns por nos permitir voltarmos ao nosso tempo de roça e matar a saudade. Era isso mesmo!

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