quinta-feira, 16 de maio de 2013

TEMPOS DIFÍCEIS PARA OS SONHADORES (Dilene Germano)


Que tempos! Melhores? Piores? Diferentes.
“Tudo é muito cinza, tudo é o muito seco. Todo mundo tem um par de fones enfiados nos próprios ouvidos, mas ninguém se atreve a cantar junto com a música. Cada um no seu próprio mini-próprio-vip mundinho. Tudo é de plástico, tudo é descartável: copos, amores, pratos, confiança, garfinhos.
Não mais nos permitimos aos pequenos prazeres. Trocamos o olhar marejado de lembrança da infância ao passarmos por crianças buscando brincar na rua por estridentes buzinas, ‘sai-do-meios’ e xingamentos. O ‘bom dia’ dado ao trocador no ônibus ficou enganchado na roleta que me impede a passagem, o ‘muito obrigado’ dado ao motorista ao que desço, é atropelado sem deixar vestígios.
Não mandamos mais cartas, não nos abraçamos, não ouvimos o que o outro tem a dizer sem automaticamente ter algo a replicar, não perguntamos mais às pessoas como se sentem: queremos as grandes novidades, queremos as grandes desgraças. Ninguém demonstra aquilo que realmente sente. O “tudo bom” recebido é automaticamente sacado de volta.
E os sonhadores... os subjetivos e quase extintos sonhadores, após em vão buscarem ultrapassar a barreira de aço natural da imensa massa inerte insensível ao mundo que os rodeia, se buscam incessantemente. Quando se acham acabam criando grupos isolados para auto-preservação; Não percebem que mesmo pintada com belas cores, é metálica a barreira que também constroem ao redor de si.
Só os práticos e racionais sobrevivem inteiros a um mundo em que a comunicação é feita de buzinas e toques de celular. Só os práticos e racionais sobrevivem a um mundo em que sonhar é sinal de fraqueza, inocência, ingenuidade. Mais alguns anos e chamaremos de verdadeiros amigos aqueles adicionados no Orkut, mais alguns anos e casamentos serão selados com apertos de mão.”  (Jamie Barteldes)

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