terça-feira, 26 de junho de 2018

DEBAIXO DOS EX-CARACÓIS DOS MEUS CABELOS....(Dilene Germano).


É... quanta história para contar! A começar, parafraseando Lamartine Babo: os meus cabelos não negam...  Apesar dos “ milagres” da escova, chapinha, alisamentos, tinturas, progressivas , etc, quando começam a crescer, não negam sua origem...

Ah!! cabelos! Volta e meia, ouço alguém ( inclusive eu) reclamando: é muito volumoso, esse “ frizz” deixa meu cabelo tal qual o Bozo (lembra?), o meu é tão seco que nem nordestino agüenta, o meu é tão oleoso que chega a atacar meu colesterol, o meu é cacheado , o meu é liso demais, o meu é isso, o meu é aquilo. Mas tem um porém..., cabelo é igual a filho, você pode falar de seu defeito, mas... os outros nem pensar!  

 E olhe que muita gente reclama de barriga cheia, pois têm cabelos maravilhosos e fáceis de serem tratados. Mas quer saber de uma coisa? Como o gênio da lâmpada ou as fadas madrinhas não puderam me dar um cabelo como eu gostaria, há anos traí o lado de minha descendência afro, após tornar-me adepta das escovas  e  da chapinha (a fada madrinha das mulheres infelizes de cabelos crespos). Não há chuva  ou insistência da natureza que me faz desistir de ter cabelos lisos! E nem me venham com o politicamente correto...

 Acho até que deve ser chato, alguém já ter, nascido com aquele cabelo perfeito, que basta lavar, dar uma sacudida e pronto: fica lindo sem esforço! Para ser sincera, eu gosto desse “ esforço”, para acabar com meus caracóis. Adoro os rituais capilares no salão, onde o “ mago” ou o “ feiticeiro” ou a “feiticeira” opera os milagres das escovas inteligente, indiana, londrina, de chocolate, de morango, definitiva, japonesa e mais o que inventarem, com suas “mágicas” varinhas de condão: escova e secador.

Mas qual o papel social do cabelo? Muito se investe nos cabelos, mas pouco se fala sobre eles, a não ser nos manuais e revistas de cabeleireiros.
Ao longo da história das civilizações, a cabeleira representou um elemento fundamental da personalidade humana. Sustentáculo da beleza, do fascínio e da sedução para as mulheres e até mesmo do poder e da força para o homem.

Todos os povos da Terra, em todas as épocas elaboraram penteados variados com a tarefa de exprimir cada etapa de suas vidas, bem como comunicar aos demais os seus respectivos papéis, seus status e suas dignidades culturais.Quer ver?

 Os romanos, por exemplo, pelavam a cabeça dos indivíduos hierarquicamente inferiores como os escravos, os prisioneiros, os traidores. Os franceses após a Segunda Guerra Mundial faziam a mesma prática com as colaboradoras e companheiras dos alemães. Os antigos egípcios tornaram-se famosos pelo uso da peruca como forma de distinção social. Sansão, do Antigo Testamento tinha sua invencibilidade ligada à sua vasta cabeleira. Foi confiar seu segredo à Dalila e deu no que deu... mas derrotou os filisteus quando recuperou seus fios preciosos.

Na Grécia Antiga, o cabelo era uma expressão de atitude. O cabelo cacheado não só estava na moda, como também representava atitude para com a vida. Os cachos eram uma metáfora para a inquietação, desejo de mudança, liberdade, alegria de viver ( pontos para as cacheadas).Como tudo se recria, com certeza os cabelos cacheados têm a sua vez, e podem até com grande “atitude”, acabar com a “ ditadura das chapinhas, progressivas e afins.
E então,  querem mais?
   O Rei-sol, Luís XIV, era notado por suas extravagâncias e longas perucas, as quais usava como símbolo de luxo e esplendor. Portanto, na França absolutista, o cabelo era sinal de nobreza, e olhe que muitas marquesas, duquesas e condessas não tinham um cabelo muito...digamos assim...ajeitável! Daí, que...   
Gente bonita, que cabelo era aquele do final do século XVI: um perucão alto, cacheado e empoado com pó-de-arroz branco? As que não usavam peruca, faziam seus penteados virarem obras de engenharia: altos com armação de arames, enfeitados de rendas e fitas, virando verdadeiros ninhos... de piolhos.

Na Idade Média, cabelo feio era sinal de bruxaria e muitas pessoas foram queimadas por isso. Naquela época,  beleza já era fundamental...cabelo então...era caso de vida ou morte!

Aqui na América, o cabelão foi utilizado como esconderijo de ouro, prata, diamantes , para enganar o fisco, ainda que a globalização estivesse engatinhando.

Mas que não fiquem tristes os carecas, a história os redime. Se por um lado, os cabelos estiveram associados á idéia de força e beleza, a calvície ficou ligada ao conceito de sabedoria. Sócrates orgulhava-se de sua falta de cabelos, dizendo: “ Mato não cresce em ruas ativas”. Grande Sócrates! Mesmo sendo idéia sua, tenho certeza que  isso não levantava a auto-estima das  mulheres pouco cabeludas!

Essa frase já foi muito usada, mas de vez em quando ainda é citada: “ é dos carecas que elas gostam mais...” . Será?... O que importa é o charme, a atitude e a inteligência, com certeza é o que deixa qualquer homem lindo, seja ele careca ou cabeludo. 

De qualquer forma, na civilização atual os cabelos perderam muito da função remota, mas ainda são marcas de beleza e sedução.

E, bendita seja a química: encaracolado, afro, ondulado, cacheado, liso (a preferência nacional), hoje ninguém mais sabe o que é natural e o que foi “fabricado” no salão.
Só sei que cabelos exigem muitos cuidados e muitos gastos para ficarem saudáveis e bonitos. Mas como isso não é um guia de beleza, então, não importa seu gosto, padrão ou preferência, procure seu cabeleireiro e seja feliz!
Fique na paz!
                       Dilene Germano   






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